terça-feira, 21 de julho de 2009

Mascara


Recentemente tenho tido que, praticamente, reaprender a viver.

Nunca imaginei que minha vida e meus alicerces poderiam mudar tanto em tão pouco tempo.

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Só exemplificando por alto, sempre tive a família perfeita (mesmo sabendo que famílias perfeitas não existem). Aquele tipo de família que curte jantar junto quase todos os dias, que criou os primos como melhores amigos, que sabe o nome de cada um dos meus amigos, que vibra e valoriza qualquer pequena vitória no trabalho como final olímpica. Eu continuo fazendo parte dessa família, essa família continua existindo, mas essa família esta em estado de choque. A aceleração da doença do meu avô esta fazendo todo mundo sair um pouco dos eixos... Talvez ele fosse nosso eixo.

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Sempre fui a menina bem sucedida. Passei pra faculdade com 16 anos, sempre tive ótimos estágios desde o 1º período, fui efetivada antes mesmo de se formar, aos 21 anos. Continuo recebendo carinho de todos os lugares pelos quais já passei na minha curta carreira profissional. Sempre fui a menina das ciências “humanas” com a visão das ciências exatas. O agridoce, o sudoeste... Trabalho em uma grande multinacional, cuja marca é uma das mais valiosas do mundo. Faço viagens, cursos internacionais, falo em jargões que ninguém entende mas que faz todos me acharem o máximo. E quando isso tudo passa a ser mais legal pros outros do que pra você? Quando você sabe onde queria estar e tem medo de não conseguir chegar lá?

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Coisas assim, obviamente não me deixam feliz. São coisas assim que me fazem estar na toca há quase um mês. Quem vai contestar a desculpa de que estou cansada por ter, depois de um dia cheio no trabalho, passado horas na casa dos meus avós? É uma “desculpa” louvável e incontestável. Mas a verdade é que no fundo é só mais uma máscara...

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Estar sozinha e não ter aquele abraço largo e gostoso, dizendo que eu não preciso me preocupar com o programa de fim de semana, que vamos apenas ficar em casa, vendo filmes velhos e ouvindo música boa. Ficar sem ar de tanto chorar de noite e não tem no colo de quem se aninhar e se sentir protegida... não só estar sozinha, como ainda ter que ser o colo dos seus pais, tios e primos... Afinal você é a forte da família.

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Um cara que eu admiro bastante conseguiu descrever bem o que eu to tentando dizer: “Já virou clichê falar que o mal do século é a solidão. Não só a solidão em si, mas a distância entre as pessoas, os muros que criamos para nos proteger uns dos outros, as máscaras sociais, a falsidade, a dificuldade em se abrir, em compartilhar, mostrar ao mundo nossas fraquezas e necessidades. Tentamos a todo custo ser completos, perfeitos, bastantes e suficientes. Mas não fomos feitos pra isso, somos seres sociais e interdependentes, não somos independentes tampouco dependentes. Mas as pessoas não se abrem, falam sobre o tempo, sobre o nada, quando dentro do peito aquela voz grita por atenção, carinho, afeto, companhia”.

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Se eu tivesse coragem seria por tudo isso que estaria gritando agora, ao invés de responder que está tudo bem a cada vez que um amigo se aproxima querendo saber o porquê do meu sumiço, ou quando querem saber como vão os projetos no trabalho...

7 comentários:

Anônimo disse...

Ah, a persona!!!

Continue a escrever, ao menos.

Boas melhoras

Anna disse...

Sou a favor de mais uma bebedeira.. não melhora, mas torna a semana bem mais suportável..

Nathália disse...

Passei aqui pra agradecer. Amo a música que vc "me indicou" no meu último post. A indicação foi pra mim um elogio. Obrigada!

Louise disse...

eu sei um tiquinho disso.

quando eu me separei, lá em 2004, voltei pra casa dos meus pais, e acabei virando uma espécie de "arrimo" aqui. Um preço, sabe? já que eu voltei, tive que pagar tal preço.

quando meu pai faleceu, em 2006, eu e minha mãe fomos as únicas que tivemos "coragem" para tomar aquelas providências chatas. meus irmãos barbados e mais velhos que eu correram, não aguentaram a barra.

e durante todo esse tempo eu até tive um "alguém", mas era tão confuso, tão enrolado, que só valeu pela experiência do tipo "não fique numa relação por comodismo..."

faz falta um abraço quando a gente é o abraço que os outros precisam. mas eu, pelo menos, acho que me acostumei com isso, mas não perco a esperança de achar alguém tão forte e, ao mesmo tempo, tão sensível como eu.

beijo, e desculpe pelo comentário enorme!!

Louise disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Louise disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Milene Mondek disse...

No final a unica coisa que queremos mesmo é um colo, e alguém com que contar no final do dia né?! ( e essa pessoal tem que ser o alguém especial!)

PS.:Você esta de parabéns com o seu blog, você escreve muito bem.