quarta-feira, 16 de julho de 2008

Verde

Tomada por uma súbita consciência verde, cheguei a conclusão que eu não precisava da segunda via do comprovante que as máquinas de cartão de crédito imprimem.

A 1ª via é a do estabelecimento e, se você prestar atenção, a maquininha sempre pergunta “deseja imprimir segunda via?”. Esse pedacinho de papel colorido só servia pra decorar o fundo das minhas bolsas.

Portanto, tomada pelo orgulho que só fazer o bem pode proporcionar, comecei a encontrar dificuldades em por esta atitude em prática.

As pessoas não estão preparadas para responder “não” a pergunta feita pela maquininha... Ficam nervosas, acham que você está fazendo alguma coisa errada, e imprimem a 2ª via.

Os lugares que eu freqüento rotineiramente já se acostumaram e não estranham mais... mas os outros... É difícil tentar ser verde!

Falando em ser verde, qual o seu impacto no planeta?

Segundo um teste do WWF o um estrago é consideravelmente grande... E nem assim as pessoas me deixam não imprimir a minha via do cartão... depois a culpa do planeta ficar maluco é minha...


terça-feira, 15 de julho de 2008

Tentando entrar no ritmo

Vamos lá meninas, aquecimento!
Pelo que eu me lembro aquecimento é tranqüilo... meia dúzia de agachamentos, estica perna daqui, estica perna de lá e pronto. Aquecimento vai ser pinto!

Isso, pessoal, excelente começo! Vamos pro chão... Perna! Mais alto! Eu falei mais alto! Só mais um oito. Agora segura na cabeça... vamos lá... contando três oitos!
Como assim perna na cabeça? O que? Ta louca? Mais alto que isso eu não levanto depois... Pqp, ta dando câimbra...

Todo mundo deitando... relaxa... respira fundo!
Opa! Essa parte eu domindo!

Vamos lá, abdominais! Na regressiva... 200!
Como assim?! Pára tudo! A gente já ta na quarta música... já to mais do que aquecida! Peraí... isso é mesmo uma abdominal? Pra mim está mais pra contorcionismo...

Vamos repetir a seqüência de chão agora tudo “en dehors”?
Momento de olhar para o espelho e ver se fui a única afazer cara de desespero...

Formando... Diagonal!
Caraça... qual a necessidade dela já começar pondo a perna lá em cima?! Como ela cai no chão e levanta tão rápido?! Socorro! Rá... decorei a seqüência! To conseguindo, to conseguindo!

Vamos trocar o sapato pra coreografia, meninas?!
Trocar o sapato?! Definitivamente você pirou de vez... minha perna ta tremendo mais do que vara verde no conforto da minha sapatilha, qual a chance de eu conseguir ficar em pé numa sandália de salto fino agora!?

É isso aí meninas... excelente aula... até quinta!
Será que eu consigo chegar dirigindo em casa?! Não sinto minhas pernas...

(hino do momento - Novos Baianos e Marisa Monte - A menina dança)

A menina dança

Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos

Só entro no jogo porque
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar

De um lado o olho desaforo
Que diz o meu nariz arrebitado
E não levo para casa
Mas se você vem perto eu vou lá
Eu vou lá

No canto do cisco
No canto do olho
A menina dança
Dentro da menina
Ainda dança

E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiarA
té dentro de você nascer
Nascer o que há

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Rota de Fuga

O vento soprava forte e chuva batia com tanta força no pára-brisas do carro que, pra enxergar alguns poucos metros a frente, ela tinha que apertar os olhos e quase colar o nariz no vidro.
Ela já tinha se afastado bastante de casa e começava a não reconhecer a maior parte das ruas por onde estava passando. Toda a consciência que ela tinha naquele momento ela usava para fugir das ruelas escuras e se manter nas vias principais da cidade.
Pouco depois de cruzar com uma linha férrea, a chuva começou a diminuir e, junto com surgimento de uns pedaços de céu azul, o ar começou a lhe faltar. Toda aquela adrenalina havia baixado e ela não sabia mais o que estava fazendo.
Com muito esforço, juntou suas últimas energias e levou o carro para o acostamento. E foi só parar o carro para que as gotas de chuvas se transformassem em lágrimas. Era um choro honesto. Misturava desespero com dúvidas. Medo e cansaço.
De pouco à pouco o corpo foi desistindo e as lágrimas foram secando. O silêncio que reinava começou a ser perturbado pelos primeiros carros que cruzavam a estrada naquela manhã. Como que saindo de um transe ela olhou em volta e não reconheceu nenhum dos elementos daquela paisagem. Não sabia nem dizer quanto tempo tinha ficado ali naquele acostamento.
Procurava na memória alguma pista e não conseguia recordar de nada...
(incompleto)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Enfrentando um medo

Já era tarde.
Telefone em cima da mesa.
Eu olhando pro telefone.
Coração batendo rápido, quando pulando do peito.

A coragem de ligar ia e voltava mais rápido do que os dedos eram capazes de discar os números.

Em uma mão segurava firme o telefone e na outra o pedaço de papel em que o número estava escrito. Fechei os olhos e revivi alguns dos momentos inesquecíveis que a nossa relação proporcionou.

Como esquecer os seguidos frios no barriga? Aquela sensação de “dessa vez vão vai ter jeito, não vou conseguir” e a outra melhor ainda de ter conseguido superar o desafio. Você sempre me dando uma lição... Quantas pessoas diferentes você me proporcionou ser? Já perdi a conta... de aeromoça a líder de torcida, personagens de cinema, hippie, guitarrista, cigana...

Seria justo pôr novamente tantas expectativas em cima de você? Alguém que já me deu tanto... E se eu não conseguir te acompanhar mais? E se eu não for mais aquela...?

Respirei fundo... disquei o número...

- Academia de Dança, Renata, boa noite!
- (silêncio)
- Alô?
- Oi... Boa noite, Renata... Será que você poderia me dar informações sobre a turma de jazz para adultos?

Suspiros de vidro

(Achado de uns meses atrás)
Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais pro final do dia que pela manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada e com mais força conforme o sol cai. Não são pensamentos escuros embora noturnos. São tão transparentes que até parecem de vidro. Vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai quebrar em cacos, o pensamento que penso de você.

Se não fosse dormir sempre com a cabeça tão cheia, acho que esses pensamentos quase doeriam quando, durante a noite, se transformassem em milhares de cacos espalhados nos lençóis. E esses pedaços refletiriam partes da nossa história. Algumas ferem, mesmo as que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo pesado. O vidro nunca quebra.

Daí penso coisas bobas quando, através da janela do carro, depois de trabalhar o dia inteiro, me pego olhando pro lado de fora. Deixo a paisagem correr e penso um pouco mais em você. Quando o transito está muito ruim, o que acontece quase todos os dias, para não me irritar tanto, descobri um jeito engraçado de continuar pensando em você. Procuro em cada um dos pedestres que cruzam meu caminho um pedaço seu. Quais tênis poderiam ser seus, quais roupas você jamais usaria, pra onde você estaria indo ou de onde estaria vindo se estivesse naquele lugar da cidade. E fico tão embalada que chego a apertar os olhos pra ter certeza de que aqueles tênis não são mesmo seus. Nunca vejo você.

Boas e bobas são as coisas que me fazem lembrar e pensar em você. Como quando você me fez andar e andar sem que eu soubesse para onde estávamos indo pra no final tomarmos um sundae delicioso, ou quando, saindo do cinema fomos comer salada de frutas num botequim. Tem ainda o filme alemão mal legendado que desistimos de entender no meio e o frio na barriga que tomou conta de mim a primeira vez que eu retornei uma ligação sua. Vivo com pudor de parecer ridícula, melosa, piegas, brega, romântica, pueril ou banal. Mas no que penso somos um pouco disso tudo, não tem jeito. Quando revivo os momentos no meu pensamento é tudo frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmusch que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.

Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tola, meio inconstante na minha mania por constância, e penso então em tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos. Paradinhos no umbigo do universo.
Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, e é tão freqüente. Ando mais devagar, certa que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir de vez em quando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito aquela nossa velha história em voz baixa... O sono chega me embalando e antes que eu me de conta já fui dormir. E o fino vidro dos meus pensamentos mais uma vez não se quebrou.