Uma parte da minha família sempre morou fora do país. Eles, todos os anos, voltavam ao Rio para a temporada de natal e ano novo fazendo com que esses 10 dias fossem os mais esperados do ano. A reunião dos primos.
Depois de 16 anos fora do país, aos 26 de idade, minha prima, e uma das minhas melhores amigas, resolveu passar um ano na sua terra natal.
Recebi a notícia com muita alegria, afinal tê-la pertinho de mim era mais do que um sonho, mas ao mesmo tempo fui tomada de uma grande preocupação. Fiquei com medo dela achar que a vida em família era aquela harmonia que ela via 10 dias por ano e não estivesse preparada para o que vinha pela frente. Uma semana antes dela chegar ao Rio escrevi um e-mail o qual reproduzo um pedaço aqui:
“...hoje ela ta voltando pra casa... Eu não sou mais a criancinha de 4 anos que ela deixou... de lá, já se passaram 16 anos! Junto com a minha enorme felicidade me sinto um pouco na obrigação de falar sobre o que vem pela frente. Não que você não saiba, mas enfim...
Família é maravilhoso! É a coisa mais valiosa que nós temos! Disso tudo nós duas já sabemos. Mas família é muito difícil! Conviver em família é uma arte complicada. Arte essa, que nos meus 20 anos, ainda estou desenvolvendo.
Aceitar o mau-humor de cada um independente do seu próprio humor. Saber que mesmo você tendo ficado puto com alguma coisa você vai encontrar aquela pessoa em uma semana e que o melhor a fazer, na maioria das vezes, é passar por cima.
Que nossos avós não têm mais a força das histórias que nos fazem rir tanto quando lembramos da nossa infância... e que hoje em dia, um abraço mais forte pode até machucá-los. Mas que, independente da força física, eles nos amam como sempre e que, mais do que nunca, precisam de nós.
Que não temos que nos harmonizar apenas com 4, ou 5 dentro das nossas próprias casas... e sim com 25 ou 30 que compõe nossa família mais próxima...
Que por mais que nos amemos e que tenhamos princípios e educação semelhantes cada casa é infinitamente diferente da outra... Que uns farão coisas inacreditáveis no nosso ponto de vista, mas que não poderemos fazer nada quanto a isso...
Que ter quase toda família morando a menos de 3km de distância pode ser a melhor e a pior coisa do mundo ao mesmo tempo. E que, mesmo a distância sendo mínima, se você não procurar, só estará com a família em festas e aniversários. E será chocante ver que nesses quase dois meses que você ficou sem ver a caçula, por exemplo, ela já esta comprando roupas na mesma loja que você!
Mas que mesmo com tudo isso (ou será por conta disso tudo?), com todos os defeitos que temos, formamos uma família maravilhosa. Que todas as dificuldades que enfrentamos pra manter a harmonia entre os núcleos familiares valem a pena quando sabemos que em cada uma daquelas pessoas encontramos conforto quando procuramos. Que cada um a sua maneira se preocupa e seria capaz de coisas incríveis por nós.”
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Lembro que ao chegar no Rio ela me abraçou emocionada, dizendo ter ficado muito tocada com o e-mail. De lá pra cá se passaram 2 anos e meio e hoje fui eu quem precisou recorrer às próprias palavras.
Quem me conhece, um pouco que seja, sabe como a minha família é a coisa mais importante da minha vida. Que eu não consigo ficar 10 minutos sem citar uma história do meu irmão, ou dos meus pais... Mas como essa harmonia familiar é difícil! Tem os avós, os tios, os primos, e existem assuntos comuns que precisam ser discutidos e acordado por todos. Entram em questão coisas referentes a poder, orgulho, hierarquia familiar... Meus Deus, que equilíbrio complexo! Só peço que eu tenha forças pra estar sempre lá, ao lado dos meus pais...
2 comentários:
Família é mesmo este mosaico.. a gente não escolhe, tem que gostar... ou não. é sempre uma opção. Boa sorte com a sua.
Família é complicado... Adoro-os, mas longe. Tenho a minha, que permaneceu aqui enquanto todos estavam longe, e são essas que prezo mais (mãe, pai e irmãs). O restante, apenas para visitas, e ainda assim, por pouco tempo. Infelizmente, eles não me conhecem de verdade, e tenho pouca paciência para suportar um sorriso constante.
Mas é assim, essa complicação de sempre. Fazer o quê!
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