terça-feira, 12 de agosto de 2008

A Irracionalidade do Espírito Olímpico

Tem dias que minhas olheiras só aumentam. Mais precisamente 5 dias. Essa história dos Jogos Olímpicos serem realizados com um fuso horário de 11 horas acaba comigo.
As vezes deito muito tarde, outras acordo cedo demais.... sempre durmo pouco. Tudo para me postar diante da televisão e assistir a alguma competição olímpica em que nem sempre existem brasileiros competido ou medalhas em jogo.

Mas por que mesmo?

Quem me conhece sabe que sou uma pessoa majoritariamente racional. Tomo poucas decisões de forma impulsiva e é raro que eu aja de forma irrefletida. Como, então, explicar meu envolvimento quase passional com eventos esportivos?
Eu tento lutar contra, brigo comigo mesma, mas não posso negar que fiquei sem dormir e com o coração apertadinho quando o flamengo foi eliminado da Libertadores este ano... Estava morrendo de sono, e super cansada, mas me vi em pé no meu quarto, às 3h da manhã, gritando para o francês segurar a 1ª posição no revezamento 4X100 livre por mais 10 metros. No segundo seguinte, me vi emocionada com a reação do, até então homem-máquina, Michael Phelps gritando por conquista mais uma medalha.

O que esses eventos mudam na minha vida? Então por que me envolvo tanto com eles?

Na definição do ensaísta Christopher Lasch, o esporte, do qual os Jogos Olímpicos representam o apogeu, mistura talento, inteligência e concentração máxima de propósito – numa atividade totalmente desprovida de sentido, que em nada contribui para o bem-estar ou riqueza da coletividade, nem para a sua sobrevivência física. Mas ela é, ao mesmo tempo, a atividade que melhor evoca a perfeição da infância, com regras e limites criados só para aumentar o prazer da dificuldade, e aos quais os participantes aderem por livre e espontânea vontade.

Na minha humilde opinião, poucas pessoas conseguiram definir tão bem o que é o esporte sem apelar para a paixão ou excessiva emoção.

Fui criada em uma casa em que o esporte sempre foi assunto principal. Os domingos começavam cedo, com as provas de automobilismo. A hora de início e a duração dos sagrados almoços de família eram definidos de acordo com o horário do jogo do Flamengo. E o final de semana só poderia se dar por encerrado depois do telefonema do Vovô para a resenha esportiva do final de semana.

Antes dos 2 anos estive no maracanã pela 1ª vez; minha primeira ida a um autódromo foi as 5, para assistir a um GP de moto velocidade; ainda não tinha 10 anos quando estreei num GP Brasil de Atletismo; ganhei uma das minhas maiores insolações ao passar um sábado inteirinho sentada em uma arquibancada modular assistindo o Brasil jogar a Copa Davis e assim já foram dias assistindo vôlei de praia, de quadra, basquete, natação, entre tantos outros.

O esporte sempre foi algo que uniu minha família. E não é por ser menina que fui deixada de fora. Ou então, por ter sido sempre meio metida, corri atrás de aprender sobre aquilo que os meninos tanto falavam pra poder não ficar de fora.

O resultado dessa criação é que, a emoção que o esporte provoca em mim, é algo que não consigo controlar. Ainda mais aqui no Brasil, em que glória esportiva vem quase sempre acompanhada de uma história de superação.

Sei que esse esporte de superação, inocente e leal, este ideal olímpico muito presente no discurso e ausente na prática, existe cada vez menos. O doping cada vez mais presente, a manipulação genética se tornando uma realidade... Mas me permito, pelo menos no que diz respeito a isso, ainda ser uma romântica. Sempre que meu lado racional começa a agir neste sentido, lembro do histórico embate entre “EUA X Alemanha Oriental” no revezamento feminino nas olimpíadas de 1976, em Montreal, tantas vezes repetido pelo meu avô. Os atletas alemãs daquela época eram entupidos de esteróides desde a infância para que seus brilhantes resultados fossem usados, posteriormente, como propaganda política. Em 76, as mulheres alemães chamaram especial atenção ganhando quase tudo. Ao final, faltando uma última prova – o revezamento 4 x 100 – na qual as alemãs já detinham o recorde mundial, ocorreu o que até hoje é considerado um dos épicos da história da natação. Impulsionadas essencialmente pela vontade quase terminal de vencer a humilhação e derrotar um adversário fisicamente imbatível, as americanas chegaram à frente, e ainda bateram o recorde mundial pela enormidade de 4 segundos. Foi, sem duvida, uma vitória da mente sobre o corpo.

E lembrando disso, quando penso no cansaço que estou sentindo hoje devido a noite mal dormida eu penso: Segura mais um pouco... Olimpíadas a gente só tem de 4 em 4 anos!

Um comentário:

Surfista disse...

Esporte, música e cinema são três elementos fundamentais para minha saúde mental. Quis o destino (e minhas limitações de talento), que apenas o esporte estivesse ao meu alcance como praticante, e não apenas como espectador.

Adoro ouvir e pesquisar música. Sou fã das salas escuras de cinema (ianque, iraniano, espanhol, francês etc). Mas, só o esporte me permitiu participar. Só ele me educou na lição da superação e da garra. Por essas e outras, sempre fico balançado quando lembro da sensação de participar de um campeonato de verdade. Guardadas as devidas proporções, quando vejo os atletas olímpicos entrando em quadra, eu penso sem modéstia: "eu sei o que você está sentindo".

PS. "Quem me conhece sabe que sou uma pessoa majoritariamente racional. Tomo poucas decisões de forma impulsiva e é raro que eu aja de forma irrefletida". Isso precisa ser trabalhado na sua pessoa. Seja mais carpe diem.