segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Revendo conceitos

Têm uns anos já... mais precisamente em 1999... Foi neste ano que me aproximei muito de uma menina... Ela tinha sido da minha sala no ano anterior e por coincidência ficamos juntas de novo na sétima série. Isso pra nossa escola, que embaralhava os alunos todos os anos, era raro.
O entrosamento entre a gente começou a crescer rápido e antes de nos darmos conta já estávamos bem amigas. Nesta época tínhamos 13 anos.
Em uma primeira análise éramos bastante diferentes... Ela com seu incontrolável mau humor matinal e eu querendo altos papos antes das 7 da manhã; ela com seu discurso de “mulher” prática e independente eu sonhadora e melosa; ela tímida como poucas pessoas que eu já tinha conhecido e eu com minha tradicional cara de pau... Contudo tínhamos características importantes em comum... As duas eram bem família, bem caretas se comparadas às meninas mais avançadinhas da série, sonhadoras como toda pré-adolescente, mas realistas, dentro do cabível pra idade.
A nossa convivência aos poucos foi saindo dos muros da escola e antes do meio do ano já éramos grandes amigas. Uma já freqüentava a casa da outra, já fazíamos nossas programinhas nos finais de semana. E à época nossa vida social era basicamente ir ao cinema e depois bater papo comendo em algum lugar. Tudo isso começando bem cedinho, é claro. Às 22:00 eu tinha que estar em casa!
Nossa amizade começou a crescer e aos poucos fomos nos conhecendo mais... Contudo, tinha uma coisa que ela dizia com freqüência que me impressionava muito. Não era raro ela dizer que não acreditava em amizade verdadeira. Aquilo sempre me intrigou muito... amigos pra mim eram mais do que uma realidade e po, ela era minha amiga... ela não acreditava na gente?! Mas confesso que minha argumentação contra essa afirmação era muito superficial... achava incrível como alguém da minha idade podia pensar tão diferente do senso comum. Eu que sempre fui tão convencional chegava a admirar essa característica dela.
2000...
2001...
2002...
Os anos foram passando. Nossa amizade não.
São centenas de histórias e viagens que não me deixam mentir...
Em 2003, no terceiro ano, ela mudou de escola mas, apesar do medo inicial da separação isso não nos abalou... no meio do ano outro desafio... eu fui morar fora do país... a perspectiva de ficar longos meses longe da minha inseparável melhor amiga era tensa. E o pior... quando eu estivesse voltando quem estaria indo para longe estudar seria ela. No seu tradicional pessimismo era comum eu ouvir que nossa amizade não venceria isso.
Pois venceu.
Começamos em faculdades diferentes, cursos diferentes... nada disso importava muito... éramos as mesmas amigas inseparáveis de sempre.
Vendo hoje... depois de quase 10 anos... admiro muito a relação que construímos... É do tipo que vai muito além de se falar no telefone todo dia ou sair no final de semana... uma entende a alma da outra... e a conexão é de banda larga e sem fio. Às vezes não é nem preciso nos olharmos pra saber se esta tudo bem... uma já decorou o manual de funcionamento da outra...
Muita coisa mudou desde 1999... mas muita coisa continua igual. Ela continua pessimista, eu continuo tentando ser sempre racional... Continuamos capazes de filosofar durante horas... as duas continuam família e caretas...
Outro dia me peguei pensando na nossa sétima serie (o que não é raro) e lembrei da frase “não acredito em amizade verdadeira”... Ri um bocado. E o melhor de tudo é saber que se ela estivesse junto comigo teria rido também. Se o que construímos não foi uma verdadeira amizade não sei que outro nome poderia ter.
É tão confortável você ter um amigo assim... com quem você não precisa justificar suas ações e pensamentos, com quem você pode tirar a mascara e chorar em filminho adolescente... Alguém especial.
Nunca precisei perguntar se ela mudou de opinião... eu sei que mudou. E apesar de rir disso tudo hoje, continuo admirando-a pelas mesmas qualidades!

Moral da História: O mundo gira, as pessoas crescem, amadurecem... mudam. Mas se uma relação é construída na base do respeito mútuo (e essa relação pode ser de amor, amizade, profissional), a chance de se construir algo verdadeiro é enorme.

Um comentário:

Surfista disse...

Uau! E eu achando que fui um pioneiro ao colocar uma moral da história no final de cada texto. Só faltou o He-Man na sua conclusão!
:)