quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dando tchau

A cena era triste.

Depois de pouco mais de dois anos de relacionamento, os dois estavam sentados naquela sala mal iluminada, já descrentes de encontrar uma saída.

A conversa ali era quase protocolar. Não houve briga, não houve traição, não havia motivo para raiva... Mas também não havia mais paixão.

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A conversa durou uns 40 minutos. Tempo no qual não houve alteração de ânimos ou nos tons de voz.

Nesse ínterim, a palavra falta foi citada 32 vezes, a expressão boas lembranças (e suas variáveis bons momentos, boas recordações, boas histórias, entre outras) apareceu 18. Frases relacionadas ao medo do futuro foram usadas apenas 4 vezes (3 por ele e só uma por ela). De relevante apareceram também os nomes dos locais por onde o casal viajou neste tempo (Itaipava e Búzios foram citadas duas vezes cada, Disney teve 4 citações, enquanto as cidades gregas e italianas somaram 12 aparições).

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No mais o clima da conversa era de uma melancolia consentida por ambas as partes.

Ela chorava. Não era um choro de soluço. Talvez o mais correto fosse dizer que lágrimas escorriam dos seus olhos.

Foi nesse momento que ela pediu um minuto e saiu da sala.

Ele ficou sem entender muito bem. Não sabia se ela ia ligar pra uma amiga, se ia pra cozinha quebrar uns copos ou se procurava um pouco de privacidade pro seu choro.

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Em cinco minutos ela retornou, com o rosto limpo e os olhos inchados levemente disfarçados pela maquiagem. Não esperou nem terminar o trajeto até o sofá quando lançou:

- Vamos sair? Tomar uma cerveja?

Ele não precisou dizer uma palavra pra que ela sacasse que ele não tinha entendido aquela atitude.

- Eu não vou deixar que um período maravilhoso da minha vida acabe em lágrimas. Fomos muito felizes, vivemos e crescemos muito. É o fim de um ciclo, e pra que possamos receber o próximo de braços abertos não podemos estar de cabeça baixa. Vamos sentar, beber, agradecer pelo nosso encontro e por tudo que vivemos. Assim o fechamento desse ciclo vai ser exatamente o que ele foi: feliz.

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Aquela atitude pegou ele totalmente de surpresa. Mas ele não podia negar que fazia sentido. Só pediu que não fosse naquele boteco no qual já eram chamados pelo nome. Ele escolheu um bar relativamente novo, numa distancia andável da casa dele, pra evitar a situação desconfortável que seria o carro. Nesse bar eles haviam estado apenas uma vez e em menos de quinze minutos os dois já estavam sentados à mesa.

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Eram, sem a menor sombra de dúvidas, os goles de cerveja mais amargos da vida dos dois. Os primeiros desceram até com certa dificuldade. O papo demorou a começar a fluir com naturalidade, mas a cerveja foi ajudando... Foi uma longa noite de lembranças, elogios sinceros e pouquíssimo rancor.

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Tudo acabou num abraço apertado e foi combinado que não haveria divisão de discos ou filmes. Cada um seguiria sua vida com o que o destino quis que estivesse na sua casa naquele dia.

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Até onde soube, os dois estão bem.

2 comentários:

Maria disse...

Muita civilidade pro meu gosto.

Mas ainda bem que está tudo bem :)

Anônimo disse...

Eu adoro civilidade!
Mas não dá pra terminar bem, ficar bem, se não houve lealdade, não é mesmo?
Final feliz só é possivel pra quem é maduro e leal, acima de tudo!

Belo texto ;*